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Recife sedia encontro histórico entre Cida Bento e Inaldete Pinheiro, duas vozes centrais na produção literária afro-brasileira da atualidade

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  • há 3 dias
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A programação integra a 5ª edição do Festival Pernambucano de Literatura Negra, que será realizada nesta quinta-feira, dia 27 de novembro, das 14h às 21h, na Universidade Católica de Pernambuco. O evento é aberto ao público e a entrada é gratuita 

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Foto: Divulgação


A cidade do Recife recebe nesta quinta-feira, dia 27 de novembro, das 14h às 21h, um dos encontros mais significativos do calendário cultural e intelectual do país. A 5ª edição do Festival Pernambucano de Literatura Negra, o qual homenageia, pela primeira vez, duas figuras centrais do pensamento negro brasileiro: Maria Aparecida da Silva Bento, conhecida como Cida Bento (São Paulo) e Inaldete Pinheiro (Pernambuco). O evento será realizado no Auditório Dom Helder, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), localizado na Rua do Príncipe, 526, bairro da Boa Vista, com entrada gratuita. A programação é realizada com incentivo da Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura.  


O encontro literário, que integra a programação de ativismo do Mês da Consciência Negra, é uma das importantes agendas públicas culturais nacionalmente, na qual reúne, além das duas principais reflexões referenciais do pensamento negro contemporâneo, um sarau, lançamento de vários livros e debates, com participação de outros convidados. A ação tem como público-alvo, estudantes, professores, pesquisadores, moradores, e toda comunidade interessada no tema.  


Entre os destaques deste ano, está a escritora paulista Cida Bento. Nascida em 1952, na zona norte de São Paulo, ela cresceu em um país marcado por uma desigualdade racial estrutural que poucos ousavam nomear. Décadas depois, sua contribuição intelectual faria exatamente o que faltava: dar nome, método, linguagem e coragem ao enfrentamento do racismo institucional e da branquitude como estrutura operante no Brasil. Psicóloga pela Universidade de São Paulo e cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, o CEERT, Cida construiu uma obra que se tornou um divisor de águas na forma como o território nacional compreende o poder e a manutenção de privilégios. 


Ao longo da carreira, ela ocupou funções que lhe permitiriam observar os mecanismos silenciosos de exclusão racial, especialmente no ambiente corporativo e nas instituições públicas. Sua dissertação de mestrado, defendida na PUC-SP em 1992, examina a discriminação racial nas organizações. Uma década depois, em sua tese de doutorado intitulada Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público, a escritora abriu uma nova frente teórica ao analisar como a branquitude se articula para preservar suas privilégios. Sua pesquisa localizou uma categoria analítica inédita e necessária: a racialidade branca como lógica de operação do Estado e do mercado. 


Em 2001, integrou a delegação brasileira na 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban, na África do Sul, participando de uma integração estratégica que ampliou o reconhecimento internacional da luta antirracista no Brasil. No CEERT, uma instituição que ajudou a fundar em 1990 ao lado de Ivair Augusto Alves dos Santos e Hédio Silva Júnior, Cida coordenou iniciativas fundamentais, como o Prêmio Educar para a Igualdade Racial e de Gênero, que desde 2002 identifica práticas escolares de valorização da diversidade. 


Sua produção intelectual se expressa em livros cruciais, como Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil, organizado com Iray Carone e lançado pela Editora Vozes em 2002; Cidadania em preto e branco, também de 2002, pelas Vozes; e Identidade, branquitude e negritude, publicado em 2014 pela Casa do Psicólogo. Em 2022, seu livro O Pacto da Branquitude, lançado pela Companhia das Letras, alcançou enorme repercussão e consolidou sua projeção internacional ao iluminar, com rigor analítico, como as estruturas institucionais e sociais decorrentes da racialização e desigualdade no Brasil. 


Atualmente, escritora integrante do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, participa da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, é conselheira titular do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e membro do Grupo Assessor da ONU Mulheres. É também professora visitante da Universidade do Texas, nos Estados Unidos. Sua voz se tornou indispensável para a reflexão contemporânea sobre democracia, equidade e direitos humanos. Sua presença no Recife reforça o protagonismo de Pernambuco em temas de alcance nacional e internacional. 


Para aquecer ainda mais o debate literário, o festival recebe a escritora Inaldete Pinheiro, que nasceu no Rio Grande do Norte, e há mais de seis décadas vive solo pernambucana. Ela fez de sua escrita um território de reencontro com a ancestralidade, a oralidade e a identidade de crianças negras historicamente ausentes da literatura infantil brasileira. Educadora, poetisa e pesquisadora da memória afro-potiguar, ela se tornou uma das pioneiras da literatura infantil afro-brasileira, construindo uma obra que influenciou escolas, projetos pedagógicos e políticas públicas de leitura em diversas regiões do país. 


Seus registros emergem como gesto político e estético ao retratar personagens negras com dignidade, complexidade e protagonismo. Em 2005, publicou O Mar que Banha a Ilha pela Editora Paulinas, obra que se tornou referência para leitores, professores e jovens autores. Em 2008, lançou As Aventuras de Wirá, também por Paulinas, livro que explora a imaginação, os mitos indígenas e as relações entre pertencimento e identidade. Severino, o Menino das Veredas, publicado em 2012 pela mesma editora, reafirma sua habilidade de narrar o cotidiano nordestino sob o olhar das infâncias periféricas. Em 2016, lançou Negros na Rua, mais uma vez por Paulinas, consolidando uma trajetória literária marcada pela delicadeza, pelo poder narrativo e pelo compromisso político com a infância negra. Ela conta com outras obras publicadas.  


Com mais de quatro décadas de atuação, a poetisa tornou-se referência para políticas de educação antirracista e para a produção literária que dialoga com memórias afro-diaspóricas. Sua obra circula em escolas, bibliotecas e programas governamentais, e sua presença no festival simboliza a força das narrativas negras como instrumento de formação, identidade e resistência cultural. 


Para a idealizadora e diretora geral do Festival Pernambucano de Literatura Negra, Jaqueline Fraga, poder fazer esta homenagem a duas personalidades femininas da literatura afro-brasileira, é poder construir uma construção de força, saberes e resistência. "Estamos emocionados diante de duas figuras potentes da nossa cultura literária. Mulheres que me inspiram a mim e a toda a minha geração. Será um encontro para guardar na memória de cada um de nós, podermos estar diante dessas lideranças da nossa língua", destacou.


Fraga tem sido uma voz importante na construção da narrativa literária feminina, tensionando, nos últimos anos, a relação entre comunicação, literatura e enfrentamento ao racismo no Brasil. Pernambucana, formada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco e em administração pela Universidade de Pernambuco, com MBA em Comunicação e Jornalismo Digital pela Universidade Cândido Mendes, ela tem buscado construir uma trajetória que une rigor jornalístico, experimentação literária e compromisso nas questões de política racial. 


Seu livro de maior projeção, Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho, publicado em 2019. No ano seguinte, conquistou vaga como finalista do Prêmio Jabuti na categoria Biografia, Documentário e Reportagem. Também recebeu menção honrosa no Prêmio Maria Firmina de Literatura e no Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, e venceu o Prêmio Antonieta de Barros Jovens Comunicadores Negros e Negras. Nos Estados Unidos, a obra foi adquirida por instituições como a Universidade da Califórnia, Universidade de Notre Dame, Universidade do Texas, Universidade de San Diego e pela Biblioteca do Congresso Americano. Jaqueline também foi convidada pela Audible, braço de audiolivros da Amazon, para transformar o livro em audiobook. 


Autora de outros títulos importantes, como Pandemia: os reflexos da maior emergência sanitária do planeta em 15 reportagens especiais, vencedor do Prêmio AMPE de Jornalismo em Saúde; Movendo as Estruturas; Big Gatilho, além de coautora do livro Cartas para Esperança, Jaqueline também idealizou projetos de impacto como Conhecendo escritoras negras de Pernambuco, série de entrevistas ao vivo que revela autoras pernambucanas, e o projeto online Nossa Voz, que difunde boas notícias relacionadas à negritude. 


Foi vencedora do Prêmio + Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira, do Prêmio Inspirar na categoria Mulheres, do Prêmio Neusa Maria de Jornalismo, do Prêmio Naíde Teodósio de Estudos de Gênero, do Prêmio Operação Cisne Branco e do Prêmio Primeiras Crônicas. Foi consultora da Unesco, integrou o Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras do Fundo Baobá e o programa Elas Periféricas da Fundação Tide Setubal.  


É palestrante convidado de instituições como Academia Nacional de Medicina, Universidade Federal de Pernambuco, Instituto Federal de São Paulo, Fenaj, Porto Digital e CESAR. Colunista do Portal Geledés – Instituto da Mulher Negra, já atuante como colunista convidada do Portal UOL. Em 2023, criou o Hub Negra Sou, um espaço de produção, articulação e comunicação voltada ao enfrentamento ao racismo. 


Programação: 

14h - Abertura

14h15 às 15h15 - Sarau Literário +sessão coletiva de autógrafos

Com Camila Mendes, Iyadirê Zidanes, Jessicalen e Vitória Oliveira


15h30 às 17h - Mesa: O fortalecimento da identidade negra na literatura de Inaldete Pinheiro.


Com Inaldete Pinheiro, Mariana Andrade e Kemla Baptista (mediação)

17h às 17h30 – Coffee Break, com Cabloca Delícias


17h30 às 18h30 - Palestra: Desafios e estratégias do jornalismo negro e cultural em Pernambuco,    Giovanna Carneiro


18h30 - 19h15 - Lançamento de Livros +sessão coletiva de autógrafos

1- Afrochego - Poema para Acalentar meu povo (segunda edição), de Odailta Alves

2- Carta ao Papai Noel, de Inaldete Pinheiro

3- Retalhos, de Valterlane Zacarias

4 - Escrever é sobreviver, de Gabriela Machado

5- O amor nunca perde o caminho de casa, de Camila Mendes


19h30 às 21h - Mesa: Reparação e reconhecimento: ancestralidade guiando novos futuros.


Com Cida Bento e Carla Teixeira (mediação)


21h – Encerramento, com apresentação musical de Evelli Santos


O quê:   Recife sedia encontro histórico entre Cida Bento e Inaldete Pinheiro, duas vozes centrais na produção literária afro-brasileira da atualidade

Quando:  Quinta-feira, dia 27 de novembro

Onde:   Unicap – Auditório Dom Helder (Bloco A – térreo). Rua do Príncipe, 526, Boa Vista, Recife.

Quanto:   gratuito 

Mais informações:   negrasou.com.br/festival | @festivaldeliteraturanegra_pe | @negrasouoficial.

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